A ATINI lamenta profundamente a morte da Dra. Zilda Arns, pediatra e sanitarista, que através da Pastoral da Criança, órgão da Ação Social da CNBB, mobilizou centenas de voluntários no combate à pobreza e à desnutrição de nossas crianças. A ATINI se identifica com o trabalho da médica e ativista, que contribuiu para reduzir os índices de mortalidade infantil no Brasil e assim ajudar o país a avançar na conquista de pelo menos um dos 8 alvos do milênio.
Dra. Zilda visitava o Haiti em missão humanitária e faleceu em função do terremoto que atingiu o país na terça-feira, dia 12. Fica aqui nossa nota de solidariedade aos parentes, amigos e colaboradores desta brasileira exemplar, e o desejo de que os benefícios alcançados por seu trabalho possam também chegar até as crianças indígenas. Nosso desejo é que a altíssima e mal-explicada taxa mortalidade infantil nas áreas indígenas seja drasticamente reduzida.
Para que a redução da mortalidade infantil conquistada tão arduamente pelo trabalho da Dra. Zilda Arns chegue às aldeias indígenas, é necessário que a portaria 883, de 8 de agosto de 2008, que instituiu as Comissões Nacional e Distrital de Investigação e Prevenção do Óbito Infantil e Fetal Indígena, saia finalmente do papel em 2010. Enquanto isso não acontece, a mortalidade infantil nas aldeias indígenas continuará sendo um mistério.
“Com base no Censo Demográfico de 2000, pesquisadores do IBGE constataram que para cada mil crianças indígenas nascidas vivas, 51,4 morreram antes de completar um ano de vida, enquanto no mesmo período, a população não-indígena apresentou taxa de mortalidade de 22,9 crianças por cada mil. A taxa de mortalidade infantil entre índios e não-índios registrou diferença de 124%. O Ministério da Saúde informou, também em 2000, que a mortalidade infantil indígena chegou a 74,6 mortes nos primeiros 12 meses de vida. Curiosamente, nas notícias do IBGE e do Ministério da Saúde não há qualquer explicação da causa mortis. Muitas das mortes por infanticídio vêm mascaradas nos dados oficiais como morte por desnutrição ou por outras causas misteriosas (causas mal definidas – 12,5%, causas externas – 2,3%, outras causas – 2,3%).”
Marcelo Santos, em “Bebês Indígenas Marcados para Morrer” (Revista Problemas Brasileiros, SESC-SP, maio-junho/2007)
Leia aqui a íntegra da palestra que Zilda Arns preparou para apresentar no Haiti