Todos os que estavam preocupados com os trigêmeos Ikpeng podem se tranquilizar. Ontem tivemos ótimas notícias sobre eles. Kumaré, o tio das crianças veio falar conosco no escritório da ATINI em Brasília. Kumaré além de tio é o chefe de posto da FUNAI na área. Foi ele quem enviou a mensagem pedindo o retorno imediato das crianças para a aldeia alegando um problema cultural…
Kumaré veio buscar o restante das doações que ainda estavam conosco (berço, carrinho de bebê, fraldas, roupinhas…) Aos poucos ele foi explicando o que aconteceu. Disse que todo bebê em sua aldeia passa por um ritual de iniciação quando atinge mais ou menos 3 meses de idade. É nesse ritual que o bebê é oficialmente integrado a comunidade e ao ambiente da mata. Como bebês gêmeos não são aceitos, eles nunca chegam a passar por esse ritual. No caso desses trigêmeos a situação mudou e criou-se um impasse na mente do povo. Já que os pais se recusaram a sacrificar os bebês, agora eles estavam crescendo e alguma coisa tinha que ser feita. A família iria ou não passar pelo ritual? Diante do impasse, o cacique então reuniu todo o povo tomou uma decisão. “Essa é uma situação nova. Mesmo que vocês não aceitam essas crianças, você precisam respeitar a vontade do Kumaré, que é tio delas e chefe do posto. Mandem buscar as crianças para o ritual. Vamos recebê-las em nossa comunidade.”
Com isso estava quebrada uma tradição ancestral. Ragal, Katiparu e Piatari foram aceitos e marcou-se uma grande festa. Kumaré pediu um vôo da FUNASA e logo a família estava na aldeia. O cabelo das crianças foi cortado e o corpinho delas foi pintado em padrões que imitam peixinhos. A alegria do casal, dos tios e do avô foi muito grande. Pessoas que antes passavam de largo, que cuspiam e que não se aproximavam da família, mudaram de atitude. Os bebês foram levados nos braços e atrás seguia uma comitiva. Iam mostrando os caminho da mata, o caminho do rio, o caminho da roça. A festa durou vários dias e tudo correu bem.
Depois do ritual a família foi para a cidadezinha de Sinop porque o pai foi contratado pela UNIFESP para trabalhar com um programa de saúde indígena. Com o salário ele conseguiu alugar uma casinha em Sinop onde vai ficar com a família. Mesmo com a aceitação das crianças pela comunidade, eles acharam melhor ficar na cidade por algum tempo, pois não têm recursos para criar as crianças sem ajuda de fora. Continuam precisando da doação de leite, fraldas e roupinhas.