Iganani Suruwahá ganha uma salinha de fisioterapia particular!
Muwaji e sua família, que estão em Brasília desde o início de março, para o tratamento de reabilitação de Iganani no Sarah, finalmente estão em paz. Agora eles estão morando numa chácara em Luziânia junto com missionários da Jocum, que falam a língua e trabalham na defesa dos direitos dos índios. Nessa nova casa eles se sentem seguros e têm a tranquilidade emocional necessária para continuar o tratamento médico da pequena Iganani.
Muwaji e sua família passaram por momentos difíceis na CASAI (casa de saúde indígena mantida pela Funasa). Tentaram por dois meses, mas não conseguiram se adaptar de maneira nenhuma. Apesar de todos os esforços da equipe da FUNASA, a vida na CASAI era insuportável para essa família de indígenas semi-isolados. A convivência forçada com índios de diversas etnias, a falta de compreensão do idioma nacional, o medo de doenças e outros problemas, fizeram com que a família entrasse em crise. Eles passavam a maior parte do tempo isolados no quarto, deitados na rede, sem se comunicar. Acabaram entrando em depressão e quase desistiram do tratamento de Iganani. O irmão de Muwaji chegou a quebrar objetos e rasgar roupas – um sinal, na cultura suruwahá, de que a situação já estava totalmente insuportável.
Os intérpretes sabiam que a situação era grave e comunicaram o fato à direção da CASAI, da FUNAI e da FUNASA. Mesmo assim, nenhuma providência foi tomada para ajudá-los. Cansados de esperar, no mês de maio a família suruwahá decidiu abandonar a CASAI por conta própria. Foram acolhidos pela equipe de intérpretes da Jocum, que fala a língua e conhece a cultura desta etnia, em uma chácara espaçosa com muita área verde, árvores frutíferas e até plantação de mandioca.
A situação parece resolvida para os suruwahá, mas o legalismo de certos dirigentes da FUNAI acaba complicando as coisas. Como são indígenas de pouco contato, alguns burocratas entendem que os suruwaha são como crianças de 5 anos, incapazes de decidir sobre suas próprias vidas. Esses dirigentes acham que os suruwahá não podem permanecer na cidade se não estiverem morando na CASAI. Eles interpretam a tutela da Estado de maneira fundamentalista, a ponto de privar os suruwahá do direito de ir e vir e do direito de livre residência.
Essa posição radical coloca em risco a vida de Iganani e de Muwaji. Os suruwahá acabam sendo forçados a escolher entre viver num ambiente culturalmente insuportável, o da CASAI, ou voltar para a aldeia e sacrificar a pequena Iganani. Os suruwahá se recusam a morar na CASAI e dizem que se forem forçados a morar lá eles preferem voltar para a aldeia. E voltaram a afirmar que, se voltar para a aldeia, Iganani terá que ser sacrificada e Muwaji vai se suicidar. Isso seria uma grande tragédia para uma família que vem lutando tanto pelo direito à vida da pequena Iganani.
A família de Muwaji está firme em sua posição. Querem o tratamento médico de Iganani, mas querem também ser tratados com respeito e com dignidade. Não abdicam de sua liberdade. E a equipe da Jocum, que acolheu e apoiou a família, está aguardando a regularização da situação por parte de FUNAI.
Enquanto isso, alheia a essas complicações, Iganani vai avançando no tratamento. O programa de fisioterapia e acompanhamento psicológico está ajudando Iganani a alcançar importantes avanços. Ela já consegue fazer vários movimentos, se arrastar para alcançar objetos, se alimenta sozinha e dá passinhos com ajuda de barras paralelas. Na nova casa, foi montada uma salinha de fisioterapia onde Iganani pode se exercitar no intervalo entre as consultas. Aos poucos, essa menininha alegre e esforçada, vai alcançando sua relativa autonomia. E sua corajosa mãe avança em sua luta – pelo direito à vida de sua filha e pelo respeito à sua dignidade e liberdade de escolha.