AGAMIJIRU era adolescente e ultimamente só andava de cabeça baixa pela maloca. Todos na aldeia a desprezavam e zombavam dela a medida que sua barriga crescia. Jovens solteiras grávidas trazem grande desgosto a uma família suruwahá e Agamijiru sabia disso. Na primeira gravidez ela tinha conseguido abortar a criança, mas dessa vez nada tinha adiantado e a barriga crescia sem parar. Ultimamente ninguém mais falava com ela na maloca, a não ser suas irmãs mais novas. Essas sim, eram as suas companheiras, e a acompanhavam onde quer que ela fosse.
Agamijiru estava apavorada, porque sabia que seu pai iria matar o bebê assim que nascesse. Ela queria entregar o bebê a Lucília, a missionária que trabalhava na aldeia, mas sabia que seu pai não iria permitir. Quando a hora do parto foi chegando, Lucília estava longe e o pai de Agamijiru também, tinha saído para caçar. O bebê nasceu na mata e as irmãzinhas de Agamijiru tentaram escondêlo até Lucília chegar. A caminhada era longa e a corrida era contra o tempo. Infelizmente o avô da criança chegou primeiro e acertou-a com uma flecha.
NIAWI nasceu numa família importante. Filho de um dos maiores caçadores da tribo e irmão de três lindos meninos. Ele era o quarto. Isso fazia da família dele uma família muito especial – quatro filhos homens! Com certeza cresceriam e viriam a matar muitas antas para alimentar o povo, exatamente como fazia seu pai.
Mas, para a tristeza da família, Niawi não se desenvolvia como um menino normal. Aos três anos de idade ainda não conseguia andar nem falar. Apesar de ser um menino gordinho e bonito, todos percebiam que ele tinha alguma coisa errada. A tensão por conta disso aumentava e a família se sentia cada vez mais envergonhada e infeliz. Várias equipes médicas estiveram na aldeia e viram o estado da criança, mas nada podia ser feito – afinal, os suruwahá eram índios semi-isolados e o qualquer interferêcia deveria ser evitada. Pelo menos isso é o que todos pensavam. Missionários chegaram a filmar e fotografar Niawi e levar o material para mostrar a alguns médicos em São Paulo. Mas nenhum diagnóstico poderia ser feito sem ver se retirar o menino da tribo. E disso os pais tinham muito medo.
A situação de pressão só aumentava e o desgosto dos pais se tornou tão insportável que eles acabaram se suicidando quando Niawi tinha cinco anos, em 1998. Toda a tribo chorou muito a perda do grande caçador. Foram dias de luto e de canto ritual. Quando terminaram os rituais fúnebres, o irmão mais velho de Niawi lhe deu vários golpes na cabeça até que ele desmaiasse. Depois disso, segundo relatos dos familiares, Niawi foi enterrado ainda vivo numa cova rasa perto da maloca.