Depoimento de um voluntário:
“Passamos nossa vida lutando por aquilo que acreditamos ser correto, porém hoje entendo que existem causas e CAUSAS. Um exemplo de uma causa que vale a pena é a causa da ATINI, que luta para dar voz aos indígenas que escolheram a VIDA. Sabemos que a vida, teoricamente, é o bem maior a ser preservado nas mais diversas leis, nacionais e internacionais. Mas na prática não é isso que a gente vê.
Sou voluntário de Itajaí e estou dedicando parte de minhas férias como cuidador na chácara da ATINI. Um dia destes eu estava conversando com a precursora deste movimento entre os indígenas, a jovem Muwaji Suruwahá. Perguntei a ela qual era o significado da palavra ATINI em sua língua. A resposta que recebi foi surprendente. Ao invés de me explicar o significado da palavra em si, Muwaji me respondeu com simplicidade:
– Diego, ATINI SOU EU, que não quis entregar iganani para ser morta, mas escolhi cuidar dela e vê-la crescer .
Muwaji escolheu não matar sua filha, condenada por ter problemas de desenvolvimento motor devido a uma paralisia cerebral. Ela escolheu seguir um caminho diferente e pedir ajuda. Confesso que por alguns minutos fiquei embaçado com sua resposta, tomado pela felicidade de constatar que não somos só nós, os chamados “civilizados”, que entendemos a profundidade e importância desta causa. Ficou claro para mim que os indígenas atendidos pela organização entendem a importância desse grito que soltaram em favor de suas crianças e da vida.
Depois dessa conversa fiquei ainda mais firme e consciente de que estamos sim no caminho certo, que é o caminho de dar voz àqueles que por muito tempo não a tiveram. Hoje, quando ando pela chácara, posso ouvir muitas risadas e rostinhos das mais diversas etnias e com isso respiro aliviado pois o choro abafado pela terra de uma cova foi trocado pela alegria de ter tido mais uma chance de vida.”
Depoimento de Diego Luiz Felício, voluntário na ATINI durante o mês de janeiro de 2011.
Muwaji vive em Brasília com seus filhos Iganani, Irurai, Ahuhari e Inikiru. Recentemente ela pediu que Ahuhari, seu filho adolescente, fosse levado para passar uma temporada na casa de amigos numa chácara em Porto Velho. Lá moram duas famílias de missionários que já viveram na aldeia suruwahá, falam a língua e conhecem bem a cutura indígena. Como Ahuhari já é adolescente, segundo a cultura suruwahá, rapazes adolescentes devem sair para passar temporadas longe da mãe, como parte importante do seu desenvolvimento. Muwaji pediu então que Ahuhari fosse visitar estes amigos missionários em Porto Velho por um período. Enquanto está lá, Ahuhari está participando de cursos de educação indígena com jovens indígenas de diversas etnias.