“Esta menina está com os olhos tristes,mas eu não. Eu tenho esperança!” Alvondi Kaingang
Essa frase foi parte da fala emocionada de um índio Kaingang, estudante de medicina, que esteve presente no manifesto que fizemos pelas crianças indígenas na Conferência da ONU em Curitiba, o COP8. Ele se referia a esta menina suruwahá da foto, que tomada por depressão e desesperança, suicidou-se no ano passado. Como ela, muitas outras crianças indígenas têm sido sacrificadas no Brasil. Algumas são abandonadas pelos pais logo ao nascer. Outras são mortas mais tarde, se manifestarem algum problema no desenvolvimento. Além disso, muitas crianças e adolescentes se suicidam anualmente nas tribos, tomadas pela mais absoluta falta de esperança. Algumas dessas crianças recebem veneno das mãos dos pais, ou são incentivados por algum parente a dar fim a própria vida.
Na Oitava Conferência das Partes (COP8), que aconteceu no final de março em Curitiba, lançamos o movimento ATINI. Atini significa VOZ na língua suruwahá. Nosso objetivo é levantar a voz a favor das crianças indígenas que correm risco de serem sacrificadas. Queremos dar visibilidade a esse problema, declarando que o direito à vida é garantido por lei a cada criança, independente da etnia. Queremos trazer essa discussão para a sociedade, para as igrejas, meios acadêmicos e para as comunidades indígenas. Nosso objetivo é proteger essas crianças, garantir tratamento médico adequado aos sobreviventes, mover a opinião pública, educar a sociedade e as comunidades indígenas, e pressionar as autoridades a fazer cumprir as leis de defesa ao direito dessas crianças…Nossa equipe de linguistas está em Brasília há quase um mês como intérpretes da família suruwahá. Depois de muita luta, muito choro e muita coragem, Muwaji conseguiu garantir um tratamento adequado para sua filha Iganani, que sofre de paralisia cerebral. Depois de escapar de ser morta várias vezes, Iganani encontra-se agora fazendo tratamento no Hospital Sarah Kubistcheck. O progresso e a alegria dela são perceptíveis. Ela já senta, dá beijinhos, entende tudo o que se fala e é muito curiosa. Mas ainda precisamos resolver o problema do alojamento dessa família suruwaha. Eles estão morando na casa de saúde indígena da Funasa em péssimas condições e Suzuki está lá junto com eles. Além da questão cultural (os suruwahá não suportam morar junto com indígenas de outras etnias, ficam com medo e se isolam), essa casa já foi denunciada pelas péssimas condições sanitárias – fossa aberta na cozinha, fossas transbordando ao redor das casas, lixo exposto, falta de pagamento dos funcionários, doenças de todo tipo. Estamos tentando conseguir um local mais adequado para essa família, já que o tratamento de Iganani é de longo prazo. Se forem forçados a ficar nesse local os suruwahá não vão suportar e vão acabar desistindo do tratamento, colocando a vida de Iganani em risco novamente.
E a outra bebê? Tititu, a menina que escapou de ser morta por ter uma má formação no ógão genital, está muito bem. Tivemos um grande desgaste nesses ultimos dias para garantir que a FUNASA providenciasse o hormônio que ela precisa para continuar viva –um remédio que custa menos de 10 reais e que pode ser comprado em qualquer farmácia. A Funasa não providenciou o remédio a tempo a a menina corria o risco de entrar em processo de desidratação e morrer. Tivemos que fazer pressão através das autoridades aqui em Brasília para que fosse feito um vôo de emergência com o lançamento do medicamento. A FUNASA cedeu à pressão e o lançou o remédio. Tititu continua gordinha e alegre
Planejamos incluir mais duas crianças no projeto ATINI. Maitá, uma Yanomami que escapou da morte e de muitos maltratos, mas que devido ao trauma não fala até hoje, com 12 anos. E um bebê indígena que foi enterrado pela mãe logo ao nascer e desenterrado algumas horas depois pela tia. Eles estão em Brasília no momento. O menino tem sérios problemas de saúde em decorrência do abandono e enterramento nas primeiras horas de vida. Ele está precisando muito de nossa ajuda. Continuem conosco – precisamos do seu apoio para o projeto ATINI. Nos ajude a dar voz a essa mulheres indigenas, que como a Muwaji, tomaram posição contra a morte – a favor da vida. Vamos fazer com que essa palavra de vida chegue a todos os cantos desse país.