Suruwahá

Exibida no Programa Via Legal 191 em 03/05/06.
TRF 1 – VERA CARPES

Sumauani já voltou para casa com a mãe. Igainani ainda precisa de tratamento. Os Suruwahás vivem isolados, na região do Alto do Purus, na Amazônia. Missionários Evangélicos, que há 21 anos moram na aldeia, procuraram tratamento médico para as crianças, em São Paulo. Uma das missionárias da Jovens com Uma Missão (Jocum), Márcia Suzuki, lembra com pesar de como o Infanticídio é praticado entre os Suruwahás, algo que ela não permitiu que ocorresse. Ana Hakani, uma indiazinha de 10 anos, sofria de hipotiroidismo congênito. Ele não andava e nem falava. Por isso, pela lei da tribo, teria que morrer. Outro irmão sofria do mesmo mal. Sem coragem de matar os filhos, os pais preferiram tomar o Timbó, um veneno utilizado pelos Suruawhás para uma prática também comum entre eles: o suicídio.

Órfã e doente, Hakani foi abandonada pela tribo. “Ela foi flechada, tem facadas pelo corpo, e ficou nesta situação por muito tempo”, lembra a missionária Márcia. Os missionários decidiram retirar Hakani da aldeia, e providenciaram tratamento médico para ela. A indiazinha, que não sorria,sorriu pela primeira vez. “Com o tratamento, ela ficou muito bem. Anda, fala, lê e escreve. E eu consegui adotar legalmente Hakani”, comemora Márcia.

Mas o que determina a lei brasileira sobre a prática do infanticídio em algumas tribos brasileiras? De acordo com o juiz federal Valisney de Souza Oliveira, o índio que não tem consciência é considerado incapaz para os membros da sociedade. Ao mesmo tempo, a lei é muito clara: ela protege o direito à vida. “É um direito humano”, alega o juiz. Tutelados pela Funai, os índios têm vários direitos que precisam ser respeitados. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) é o órgão responsável pela saúde dos povos indígenas de todo país. A Funasa proibiu os missionários da Jocun, os únicos intérpretes que conhecem o idioma dos Suruwahás, de se aproximarem dos índios em Brasília. Ao tomar conhecimento desta situação, o Ministério Público determinou que a Funasa colocasse um intérprete à disposição dos índios, enquanto a indiazinha doente permanecer em tratamento no Hospital Sara Kubitschek. “A Funasa acabou mandando a família para Brasília, sem direito a intérprete. E sem ninguém que entenda a língua deles”, lamenta Valisney. A Funasa acusa os missionários de catequizarem os índios, o que é proibido por lei. ”Inclusive, há uma preocupação do Ministério Público com o resguardo dos valores culturais, no trato das populações indígenas”, se defende Paulo Lustosa, presidente da Fundação.

Já que há mais de vinte anos os missionários moram na Aldeia e trabalham com os índios, fica evidente que o Estado brasileiro andou ausente das terras Suruwahás. Sem saber da polêmica provocada no mundo do homem branco, Muwaji, mãe de Igainani, teve a coragem de quebrar a tradição de que quem nasce doente deve morrer. Com a ajuda dos missionários, salvou a filha e agora já pode sorrir.

OBS:O Ministério Público Federal deu um prazo de seis meses para que os Missionários Evangélicos da Jovens com Uma Missão (Jocum) treinem funcionários públicos da Funasa e da Funai – e depois deixem a aldeia Suruwahá. Os missionários anunciaram que vão lutar na Justiça para permanecer na aldeia.